Para quem busca novas formas para parar de fumar, os resultados positivos da terceira e última fase de testes de um novo medicamento podem representar um novo caminho. Nos testes, o remédio fitoterápico citisiniclina, também conhecido cistina, da Achieve Life Sciences, fez com que um terço dos fumantes deixasse o vício em nicotina, sem provocar efeitos adversos significativos.
Até o momento, nenhuma agência reguladora, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou oficialmente o remédio citisiniclina para o tratamento do tabagismo. No entanto, os responsáveis pelo medicamento são otimistas com as evidências já levantadas e publicadas na revista JAMA.
Se o medicamento citisiniclina for aprovado para uso, o remédio para deixar de fumar será o primeiro nos últimos 15 anos a chegar ao mercado internacional com este objetivo.
Vale lembrar que, por aqui, o uso de vapes não é encarado como uma opção segura para quem deseja parar de fumar. Inclusive, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) afirma que o uso de cigarros eletrônicos também pode levar ao tabagismo.
O que é citisiniclina?
A medicação citisiniclina é um fármaco à base de plantas (fitoterápico) que, dentro do organismo, se conecta aos receptores de nicotina no cérebro. É como se o composto ocupasse o mesmo lugar da nicotina, caso tivesse sido absorvida pelo corpo, através do fumo.
Com isso, o medicamento suprime (ou reduz) o desejo pela nicotina, estimulando o indivíduo a parar de fumar, já que não há mais o desejo químico. Também reduz os efeitos colaterais provocados pela abstinência da substância.
Hoje, os testes clínicos foram feitos, na maioria das vezes, com fumantes de cigarros convencionais, só que, com mais estudos, será possível entender o impacto naqueles que fumam cigarros eletrônicos com nicotina
O mecanismo de ação da nova medicação é semelhante ao da vareniclina, já aprovada nos Estados Unidos e no Brasil. No caso brasileiro, a medicação chegou em 2006.
Testes com o remédio que faz parar de fumar
No mais recente teste com humanos, os pesquisadores recrutaram 810 pessoas que fumavam diariamente, queriam largar o vício do tabagismo e moravam nos EUA. No experimento, foram testados diferentes durações do tratamento (seis e 12 semanas) com a citisiniclina, além do grupo placebo (que não tomou a medicação real). O modelo mais vantajoso foi o de 12 semanas.
Entre a nona e vigésima semana, 32,6% (um terço) dos participantes que receberam o medicamento durante todo o período não tinham voltado a fumar, ou seja, estavam em abstinência. No grupo placebo, apenas 7% permaneciam longe dos cigarros.
Outra vantagem do tratamento é que os efeitos parecem ser prolongados no corpo. Para o grupo de 12 semanas, passados três meses da conclusão da terapia, 21,1% continuava sem fumar. No grupo controle, o percentual era de apenas 4,8%.
Efeitos colaterais do remédio contra o tabagismo
Analisando os efeitos colaterais, a medicação citisiniclina foi considerada segura e bem tolerada. “As taxas de sonhos anormais e insônia afetaram menos de 10% de cada grupo, e as taxas de dor de cabeça e náusea para a citisiniclina foram semelhantes às taxas do placebo. Apenas 2,9% descontinuaram a terapia devido a um evento adverso, e nenhum evento adverso grave ocorreu”, pontua Nancy Rigotti, professora da Harvard Medical School e uma das pesquisadoras do atual estudo, em nota.
“Os medicamentos atualmente disponíveis não ajudam todos os fumantes a parar de fumar e produzem efeitos colaterais indesejados em outros”, lembra a pesquisadora. “É por isso que, se aprovada pelos reguladores, a citisiniclina pode oferecer uma nova opção para tratar o tabagismo, a principal causa de morte evitável em todo o mundo”, completa.
Quando a citisiniclina chega ao mercado?
Por enquanto, ainda não há uma previsão oficial de quando o medicamento citisiniclina contra o tabagismo chegará ao mercado. Antes, é necessário que ele seja aprovado pelas agências reguladoras. Neste ponto, a previsão é que a Achieve Life Sciences dê entrada no pedido de autorização de uso nos EUA no primeiro semestre de 2024.
Fonte: JAMA e Achieve Life Sciences