O câncer de próstata é uma das principais causas de morte entre homens em todo o mundo, e atinge principalmente os idosos. Porém, com o avanço dos tratamentos, a chance de cura e sobrevida torna-se maior a cada ano. Uma das técnicas que chamam a atenção da comunidade científica atualmente é a utilização de medicamentos com cannabis, que podem potencializar a ação da quimioterapia nos pacientes.
Os estudos que envolvem a ação de canabinoides sobre esse tipo de tumor datam desde a década de 90, sendo que os mais recentes sinalizam a eficácia de forma mais específica. De acordo com o artigo “The Pathophysiology and the Therapeutic Potential of Cannabinoids in Prostate Cancer”, publicado neste ano na revista científica suíça MDPI, o uso de medicamentos com cannabis pode limitar o crescimento de tumores e atuar diretamente na apoptose, isto é, na morte específica de células cancerígenas sem danificar os tecidos saudáveis. “Além dos efeitos paliativos dos canabinoides, pesquisas nas últimas décadas demonstraram seu potencial promissor como agente antitumoral”, aponta a publicação.
A médica Maria Teresa Jacob, membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), explica o funcionamento dessas medicações contra o câncer de próstata: “A cannabis medicinal potencializa a ação da quimioterapia ou do tratamento hormonal que o oncologista determinar para o paciente. Esse tipo de medicamento por si tem um efeito antitumoral, pois diminui a multiplicação das células cancerígenas e aumenta a morte dessas células seletivamente, sem atuar em células sãs”.
Segundo a especialista, a abrangência das pesquisas relacionadas tende a aumentar nos próximos anos. “A cannabis medicinal já possui alguns estudos in vitro, in vivo em animais, e, no caso da terapia para câncer de próstata, já existem estudos em humanos com um pequeno número de pacientes, que mostram essa eficácia na apoptose. Apesar desses estudos ainda serem com grupos limitados, devem avançar muito mais agora, já que a Organização das Nações Unidas retirou a cannabis do hall das drogas altamente viciantes e perigosas, reconhecendo sua função medicamentosa”, afirma.
A cannabis é segura para pacientes com câncer de próstata?
O avanço nas liberações de uso de medicamentos canabinoides no Brasil tem gerado alta adesão entre médicos e pacientes. De acordo com dados da Anvisa, o número de autorizações para importar esse gênero de produto subiu de 8.522, em 2019, para 19.120, em 2020, chegando a 33.793 até o último dia 11 de novembro.
Como aponta a agência, as autorizações para pessoas da terceira idade foram ampliadas de 6,8%, em 2015, para 23,6%, em 2019. Sendo que o câncer de próstata atinge principalmente homens idosos, esses números podem gerar uma preocupação: o uso de medicamentos com cannabis seria seguro para esses indivíduos, com idade mais avançada e organismo debilitado pela doença?
De acordo com a dra. Maria Teresa, os pacientes podem se tranquilizar. “Não existe contraindicação no uso da cannabis para os pacientes mais velhos. A cannabis medicinal costuma dar poucos efeitos adversos, que na maioria das vezes ocorrem no período de introdução ao medicamento, enquanto se ajustam as dosagens, e diminuem com o tempo. O mais comum deles é sonolência no início do tratamento. Se houver uma introdução gradual do fármaco, começando com doses pequenas, dificilmente haverá efeitos colaterais importantes, mesmo em pacientes idosos”, indica.
Como todo medicamento, porém, o canabinoide deve ser indicado por um especialista. “Desde que o médico prescritor conheça bem o sistema e as propriedades do canabinoide e saiba escolher o medicamento mais adequado para o perfil de cada paciente, não há contraindicação ou fator que impeça o uso”, aconselha a profissional.
Sobre a Dra. Maria Teresa Jacob
Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinóide para diversas patologias em sua clínica localizada em Campinas. Dra. Maria Teresa Jacob é formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, turma de 1982, com residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Pós-graduada em Endocanabinologia, Cannabis e Cannabinoides pela Universidade de Rosário, Argentina. Possui Título de Especialista em Anestesiologia, Acupuntura e Dor. Além de especialização em Dor, na Clinique de la Toussaint em Strassbourgo, na França, em 1992; especialização em Cannabis Medicinal e Saúde, na Universidade do Colorado e Cannabis Medicinal, no Uruguai. Membro da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS), da Sociedade Européia de Dor (EFIC), da Society of Cannabis Clinicians (SCC) e da International Association for Canabinoid Medicines (IACM).