Levantamento aponta que plataformas vasculham dados de quem nunca as usou; redes também descumprem exigências da LGPD, segundo o estudo

(Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

Oito das 17 plataformas digitais mais populares no Brasil coletam informações de pessoas que nem sequer têm conta nos serviços. É o que aponta um estudo do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo o levantamento, repercutido pelo jornal Folha de S. Paulo nesta semana, apenas LinkedIn e TikTok informaram aos pesquisadores quais dados haviam obtido por esse método. Outras redes, como Instagram, Facebook, Threads, Reddit, X/Twitter e YouTubenão responderam

O uso de informações de não usuários preocupa a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que já chegou a suspender temporariamente o uso de dados pela Meta em seus projetos de inteligência artificial (IA).

Estudo avalia se redes sociais atendem a LGPD

O levantamento “Redes Sociais e LGPD”, conduzido pelo CTS da FGV, avaliou se as redes sociais e aplicativos de mensagens mais usadas no Brasil estão de acordo com a legislação. 

Foram analisados 16 critérios objetivos, que vão desde a transparência na coleta até o tratamento automatizado das informações, entre maio e julho de 2024.

Cumprimento de critérios da LGPD

O estudo aponta que nenhuma das plataformas analisadas cumpriu totalmente os critérios exigidos pela LGPD, mesmo após mais de quatro anos da lei em vigor. 

Redes sociais
Pesquisa avaliou se redes sociais populares no Brasil atendiam todos os pontos da LGPD (Imagem: Ahyan Stock Studios/Shutterstock)

Quando a pesquisa foi realizada, nenhuma identificava o encarregado de dados, figura responsável por responder às solicitações de usuários e autoridades sobre o uso de informações pessoais. Em vez disso, as empresas indicavam apenas um e-mail genérico de contato. 

Depois, Meta, X, Telegram e YouTube passaram a nomear oficialmente seus responsáveis, o que representou um avanço parcial.

A análise também constatou falhas em outros pontos centrais da legislação. Só LinkedIn e Telegram estão totalmente adequados à regra sobre decisões automatizadas, que determina transparência quando algoritmos tomam decisões sem intervenção humana.

Meta e X receberam pontuações parciais, enquanto o Signal teve o pior desempenho entre as 17 plataformas. Embora a proposta do aplicativo seja armazenar o mínimo possível de informações, sua política de privacidade do aplicativo, segundo os pesquisadores, é “minimalista” e distante dos padrões cobrados pela lei brasileira.

A Meta informou ao Olhar Digital que não vai comentar sobre a pesquisa. Reddit, Signal, X não tinham respondido até a publicação da reportagem pelo jornal.

Já o YouTube enviou uma nota oficial, na qual afirma que não se posiciona como uma rede social, mas como “plataforma de streaming de vídeos”. “Mantemos o compromisso de proteger a privacidade de nossos usuários de forma responsável, seguindo a Política de Privacidade do Google”, prosseguiu.

A plataforma ainda salientou que os usuários têm controle sobre as configurações de privacidade por meio de dois mecanismos: a ferramenta Seus Dados no YouTube e pelas configurações da Conta do Google.

A empresa também indicou quais são os dados coletados:

  • Dados fornecidos pelo usuário (como nome, e-mail, conteúdo enviado e comentários).
  • Atividade na plataforma (vídeos assistidos, buscas realizadas e interações).
  • Informações de localização (com base em GPS, IP e sensores do dispositivo).
  • Dados do dispositivo e navegador (tipo de aparelho, sistema, rede e identificadores).
  • Informações de parceiros e fontes públicas.

“Mesmo desconectado, algumas preferências podem ser armazenadas com identificadores do dispositivo, sempre com opção de controle pelo usuário”, finalizou.

Riscos e lacunas na proteção de informações

ANPD alertou que a falta de anonimização e pré-tratamento adequado das informações pode levar ao uso indevido de dados pessoais, principalmente quando envolvem crianças, adolescentes ou dados sensíveis

Segundo o órgão, essas brechas aumentam a possibilidade de exposição indevida e dificultam a responsabilização das empresas em casos de vazamento.

Tecla "Enter" em um teclado de computador com um mapa do Brasil e os dizeres "Brazil LGPD"
Plataformas digitais populares no Brasil estão longe de cumprir integralmente a LGPD, segundo pesquisador (Imagem: Cristian Storto/Shutterstock)

Para o pesquisador Luca Belli, da FGV Direito, o cenário mostra que as plataformas ainda estão longe de cumprir integralmente a LGPD. Segundo a Folha, ele destaca que os titulares têm direito de saber como e com qual finalidade suas informações foram usadas

Em resposta a essa assimetria, a ANPD passou a adotar um modelo de análise de risco que leva em conta o número de usuários e o potencial dano de vazamentos

Foi com base nesse modelo que, em 2024, a autoridade suspendeu o uso de dados brasileiros pela Meta em projetos de IA – decisão revertida três meses depois, quando a empresa criou um formulário para que não usuários pudessem pedir a exclusão de seus dados.

Avanços e boas práticas

Apesar das falhas, o estudo também identificou avanços pontuais entre as plataformas. A Meta, por exemplo, obteve a melhor pontuação geral, com 12,5 de 16 pontos, reflexo do maior investimento em políticas de conformidade. 

Telegram foi elogiado por seu bot LGPDBot, que permite aos usuários visualizar de forma transparente quais informações o aplicativo acessou. E o X (ex-Twitter) recebeu destaque por manter uma política de privacidade didática, com tabelas e diagramas que explicam o uso dos dados de maneira acessível.

O estudo aponta ainda que as grandes empresas têm vantagem no cumprimento da LGPD porque as medidas de conformidade têm custo elevado. Isso aprofunda a diferença entre plataformas com e sem estrutura para atender plenamente às exigências da lei.

Fonte: Olhar Digital

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Redes sociais coletam dados até de quem não tem conta nelas, aponta estudo