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Por motivos lógicos, um bom motorista tende a pagar menos pelo seguro. Mas como se define quem é bom de volante e quem é “roda dura”?
Normalmente, as seguradoras analisam aspectos como idade, renda, gênero e local de residência, através fórmulas matemáticas refinadas com o passar do tempo. O histórico do condutor que já teve seguro antes também serve, para o bem ou para o mal.
Outra possibilidade que vem crescendo é o compartilhamento, em tempo real, de como a pessoa dirige o carro.
Nessa modalidade, usa-se um “app espião”, que, apesar do nome, é consensual. Instalado no celular, ele é capaz de estimar a performance do condutor com base em sensores do telefone.
Agora, também já há carros nacionais que são capazes de coletar centenas de informações por segundo e vendê-las às seguradoras. A prática é legalizada, mas a LGPD estabelece normas claras de tratamento dos dados, dizem especialistas.
Boa intenção
Há seis anos, UOL Carros já relatava o uso de dados auxiliares para calcular o seguro automotivo. Na ocasião, grandes seguradoras já ofereciam aplicativos para smartphone que cruzavam dados e, assim, conseguiam estimar se havia freadas e acelerações bruscas ou uso indevido do aparelho ao volante.
Recentemente, empresas como a Justos elevaram a vigilância a um novo patamar, mas com a contrapartida de nunca punir o usuário por isso, explica Felipe Genovesi, chefe de vendas e parcerias da empresa.
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“Nosso critério é educativo. O cliente entra com um preço justo e depois do segundo mês, ele sendo um bom motorista nós diminuímos 30% do valor contratado. Isso é a individualização do risco”, disse Genovesi.
Para essa análise, a Justos utiliza os mesmos sensores que permitem ao celular, por exemplo, identificar atividades físicas. “É importante mencionar que o celular deve estar fixo, pode ser no bolso ou em um apoio no painel, mas ele não pode estar solto no carro, pois pode influenciar na mensuração”, diz a empresa.
Com o usage-based insurance, como é chamado, se popularizando, as montadoras entraram na jogada. É o caso da Stellantis, por exemplo, que, em 2021 anunciou sistema do tipo em carros da Fiat e da Jeep no Brasil.
As informações captadas por dezenas de sensores de Renegade, Toro, Compass, Pulse e outros modelos é enviada para a norte-americana LexisNexis, que comercializa tais dados com seguradoras interessadas.
Além do acesso bruto a dados, a LexisNexis vende métodos próprios de “pontuar” os motoristas, possibilitando a quem faz o seguro estimar, mais precisamente, o valor da apólice. Os dados podem ser conferidos utilizando o CPF do dono e/ou o chassi do carro.
Estima-se que, atualmente, haja cerca de 800 mil veículos conectados da Stellantis em circulação no país. Desse total, 60% compartilha seus dados.
Consentimento obrigatório
Isso acontece por um detalhe crucial: o consentimento, cuja obrigatoriedade é dado pela Lei Geral de Proteção de Dados, em vigor desde setembro de 2020.
A norma exige que o consentimento deve ser livre, informado e explícito. Nos carros modernos, o termo de aceite é comumente mostrado quando se faz login na central multimídia.
Além disso, a LGPD exige que o titular seja informado sobre a finalidade do uso. Ou seja, os os dados não podem ser usados para outros propósitos incompatíveis com aqueles acordados.
Curiosamente, a lei também garante, ao titular dos dados, o direito de solicitar a “revisão de decisões tomadas unicamente com base em tratamento
automatizado de dados pessoais que afetem seus interesses”.
Dessa forma, caso não concorde com a pontuação dada pelo algoritmo, o motorista tem direito de contestá-la e receber justificativas adequadas.
“A LGPD não impede o uso de telemetria, mas estabelece regras claras. O motorista deve saber e concordar com o que está sendo coletado e deve ter controle e acesso aos seus dados”, explica a advogada Camila França, especializada em regulação digital.
A LexisNexis estima que, por volta de 2030, todos os carros vendidos no Brasil trarão suporte à telemetria, alimentando diferentes bancos de dados. Questionada por UOL Carros acerca de novas montadoras com as quais trabalha, a companhia não respondeu.
Serão milhões de automóveis “vigiáveis”, cujas informações podem ser acessadas por terceiros e que precisam de controle de finalidade e uso, explica França: “a empresa deve protegê-los e usá-los de forma lícita, proporcional e não discriminatória.”
Fonte: UOL
Fonte: Diário Do Brasil