Guerra da IA motivou investimentos bilionários em startups, como OpenAI e Anthropic, que, agora, terão que responder por possível truste

Anthropic é um dos nomes que chama a atenção na corrida pelo desenvolvimento de inteligência artificial (IA). Apesar do ChatGPT já ter decolado – e outras ferramentas terem o seguido, como o Gemini (anteriormente Bard) e o Copilot –, a startup segue trabalhando no chatbot Claude e, no caminho, já arrecadou quantias bilionárias em investimentos.

A onda de financiamento igualmente chamou atenção. Startups só costumam receber investimentos quando provam que seu trabalho está dando certo, mas, no caso das desenvolvedoras, uma tendência de apostas mostra que todos querem estar envolvidos com a IA.

Em menos de um ano, a Anthropic recebeu US$ 7,3 bilhões (R$ 36,03 bilhões, em conversão direta) em financiamento com promessa de não destruir a humanidade. Entenda o que isso significa e o que motivou as quantias.

Anthropic promete: sua IA não vai destruir o mundo

A Anthropic foi fundada em 2021 pelos irmãos Dario Amodei (que virou presidente-executivo) e Daniela Amodei (que virou presidente). Anteriormente, ele fazia parte da OpenAI e ajudou na criação do ChatGPT.

Quando resolveu sair da desenvolvedora anterior e, juntos, fundaram a Anthropic, a nova startup chamou atenção – mais uma na corrida da IA. Ainda, com o boom da tecnologia, grandes empresas queriam ter seu nome – e produtos – associados à inovação.PUBLICIDADE

Se, normalmente, as pequenas companhias costumavam receber investimentos a cada um ano a 15 meses, elas passaram a arrecadar bilhões em tempo recorde. Foi o caso da Anthropic.

Para isso, a startup teve que se diferenciar: desde o começo, os irmãos Amodei deixaram claro que a construiriam IA com “grades de proteção”, como reportou o The New York Times. No ano passado, em entrevista a um podcast, Dario Amodei afirmou que havia chance de 10 a 25% que a tecnologia de IA pudesse destruir a humanidade. E assim, cresceu.PUBLICIDADE

Ilustração do chatbot Claude
Diretrizes de valores morais do Claude consideram, por exemplo, a Declaração de Direitos Humanos da ONU
e regras de privacidade da Apple (Imagem: Divulgação/Anthropic)

Investimentos bilionários na Anthropic

Em maio do ano passado, a Anthropic recebeu uma série de investimentos que a tornariam bilionária:

  • A Microsoft já estava decolando com o ChatGPT, e Google e Salesforce não quiseram ficar para trás. As duas empresas investiram um total de US$ 450 milhões (R$ 2,22 bilhões) na nova startup;
  • Em agosto, como lembra o NYT, duas empresas de telecomunicações asiáticas investiram mais US$ 100 milhões (R$ 493,6 milhões);
  • Em seguida, veio a Amazon, com US$ 4 bilhões (R$ 19,74 bilhões), e o Google novamente, com US$ 2 bilhões (R$ 9,87 bilhões);
  • Já neste mês, a empresa de capital de risco Menlo Ventures aplicou mais US$ 750 milhões (R$ 3,7 bilhões) na Anthropic.

Foram US$ 7,3 bilhões (R$ 36,03 bilhões) investidos na desenvolvedora em cerca de nove meses. Segundo fontes do jornal, a avaliação da companhia triplicou de valor e chegou a US$ 15 bilhões (R$ 74,04 bilhões), com cerca de US$ 8 milhões (R$ 39,48 milhões) em receita mensal no ano passado. A estimativa é que o valor deve crescer cerca de oito vezes este ano.

Imagem: Tada Images/Shutterstock

Antes disso, a startup já tinha investimentos consideráveis. Em 2021, arrecadou US$ 124 milhões (R$ 612,07 milhões) de investidores, incluindo de Jaan Tallinn, empresário conhecido por destacar os riscos existenciais da IA, e do Centro de Pesquisa de Riscos Emergentes, ONG suíça que quer “construir futuro guiado pela sabedoria e compaixão”;

Em 2022, arrecadou US$ 580 milhões (R$ 2,86 bilhões) para pesquisas voltadas ao desenvolvimento de IA e garantir que a tecnologia não causasse danos. Boa parte veio do fundador da bolsa de criptomoedas FTX, Sam Bankman-Fried, e colegas, que ficaram conhecidos por enxergar a IA como risco existencial.

Ilustração de investimentos em startups
Imagem: Olivier Le Moal/Shutterstock

Investimentos em IA vs. truste

Outro ponto chamou atenção. Conforme recebia os financiamentos, a Anthropic concordou em fazer trocas. Por exemplo, aceitou usar a tecnologia de chip da Amazon Web Services (AWS) em troca de o Claude ser o serviço de IA oferecido no sistema. Também passou a usar os serviços de computação em nuvem do Google.

Na prática, os investimentos foram revertidos pelo uso dos produtos. Essa não é uma prática exatamente nova e também aconteceu entre Microsoft e ChatGPT, mas, recentemente, motivou investigação por parte da Comissão Federal de Comércio (FTC, da sigla em inglês).

O órgão abriu inquérito sobre os investimentos da Amazon e do Google na Anthropic por possíveis violações antitruste, já que o dinheiro seria usado para reforçar as próprias investidoras. O Olhar Digital falou sobre o caso aqui.

Como o financiamento com benefícios viraram tendência, Anthropic, OpenAI e outras desenvolvedoras em ascensão terão que descobrir como operar nessa nova fase, seja com novos acordos ou com investimentos menores e fracionados.

Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Rodrigo Mozelli

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Rival da OpenAI, Anthropic promete não destruir a humanidade; entenda boom da startup
Foto: T. Schneider/Shutterstock