(Imagem: ThePowerPlant / Shutterstock.com)

A partir desta sexta-feira (1º), entram em vigor os novos percentuais obrigatórios de biocombustíveis adicionados à gasolina e ao diesel vendidos no Brasil. A medida, anunciada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no mês passado, tem como objetivo reduzir a dependência externa de petróleo e atenuar os efeitos de oscilações internacionais de preço.

Com a mudança, a proporção de etanol na gasolina sobe de 27% para 30%, enquanto o percentual de biodiesel no diesel aumenta de 14% para 15%. Segundo o governo, o ajuste busca garantir maior previsibilidade no mercado interno, diante de incertezas causadas por conflitos no Oriente Médio e instabilidades no setor energético global.

Etanol mais presente na gasolina pode baratear o litro

No caso da gasolina, a mudança pode trazer alívio momentâneo no preço ao consumidor. De acordo com Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), a alta oferta de etanol durante o pico da safra da cana-de-açúcar pode resultar em uma redução de até R$ 0,02 por litro nos postos.

Entretanto, esse cenário tende a ser passageiro. “A tendência é de que esse cenário mude após o fim da safra, com possível alta nos preços”, alertou Araújo ao g1. O etanol é um combustível renovável e nacional, mas seu preço também sofre variações sazonais conforme a oferta no mercado.

Etanol em um frasco
(Imagem: ThamKC / Shutterstock.com)

Diesel mais caro com o aumento do biodiesel

No caso do diesel, o impacto é inverso. O acréscimo de 1 ponto percentual na mistura de biodiesel pode levar a um aumento de até R$ 0,02 por litro no valor final ao consumidor. Isso ocorre porque, segundo Araújo, o biodiesel tem custo quase duas vezes maior que o diesel de origem fóssil. “Com a nova mistura, esse custo extra será repassado ao consumidor”, afirma Araújo.

Por outro lado, o setor produtivo considera o impacto pouco relevante. Para Donizete Tokarski, diretor-superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), a variação tende a ser imperceptível na prática. “Em um mesmo bairro, é comum encontrar variações superiores a R$ 0,20 por litro entre os postos”, argumenta.

posto de gasolina
(Imagem: Sami_DZ / Shutterstock.com)

Produção nacional e efeitos na cadeia de alimentos

A elevação na mistura de biodiesel deve estimular a produção nacional. A estimativa da Ubrabio é que o novo percentual gere cerca de 60 milhões de litros adicionais de biodiesel até o fim de 2025. Como o insumo é produzido a partir de óleo de soja, também haverá aumento na oferta de farelo de soja, subproduto utilizado na produção de ração animal.

Segundo Tokarski, esse incremento pode baratear custos da cadeia produtiva de carnes, beneficiando indiretamente outros setores da economia.

MME projeta queda nos preços e destaca ganhos econômicos e ambientais

Contrário ao que diz a Abicom em relação ao diesel, o Ministério de Minas e Energia (MME) aponta para expectativas de redução nos preços dos dois combustíveis (gasolina e diesel) com a entrada em vigor do E30 e do B15, respectivamente.

Segundo a pasta, com base em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel B deve ficar em R$ 5,99 por litro em agosto, abaixo dos R$ 6,00 registrados em 31 de maio. No caso da gasolina, a estimativa é de uma redução média nacional de R$ 0,12 por litro com a nova mistura.

O MME destaca ainda que a medida faz parte da Lei do Combustível do Futuro e representa um avanço na transição energética brasileira. De acordo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, “o Brasil volta a ser autossuficiente em gasolina após 15 anos e reduz a necessidade de importação de diesel”.

Entre os benefícios apontados pelo ministério estão a geração de 50 mil empregosinvestimentos superiores a R$ 10 bilhões na cadeia do etanol e a possibilidade de exportar até 700 milhões de litros de gasolina por ano. O B15, por sua vez, deve impulsionar investimentos de mais de R$ 5 bilhões e incorporar cerca de 5 mil novas famílias ao Programa Selo Biocombustível Social.

O MME também reforçou que a decisão foi embasada em testes técnicos conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, com a participação de montadoras, importadores e representantes da indústria automotiva, que atestaram a viabilidade e segurança das novas misturas para a frota em circulação.

Possíveis impactos dos biocombustíveis nos veículos ainda geram debate

A ampliação da mistura de combustíveis fósseis com biocombustíveis ainda divide opiniões no setor automotivo. A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) alertou em março que os efeitos dessas mudanças nos motores são incertos, especialmente em veículos mais antigos ou não projetados para operar com teores mais altos de combustíveis renováveis. A entidade defende a realização de testes de longa duração em condições reais de rodagem antes de ampliar os percentuais.

um frentista é visto durante o abastecimento de um veículo em um posto de gasolina pertencente à rede Menor Preço na cidade de Salvador.
O impacto da mudança divide opiniões de órgãos do setor automotivo (Reprodução: Joa Souza / Shutterstock.co)

Para a AEA, o biodiesel apresenta riscos adicionais por sua higroscopicidade — capacidade de absorver umidade do ar —, o que pode levar à formação de fungos, oxidação e entupimentos no sistema de alimentação dos motores. Já o etanol em alta concentração preocupa por possíveis falhas de funcionamento em carros à gasolina mais antigos e importados, além de aumento no consumo de combustível.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) participou do grupo de trabalho que avaliou o E30, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Segundo o diretor de Assuntos Regulatórios da entidade, Gilberto Martins, os resultados obtidos não apontaram problemas técnicos que inviabilizassem a adoção do E30.

“Não foram identificados impactos negativos na durabilidade ou no desempenho dos motores testados, desde que a qualidade do combustível comercializado seja mantida conforme as especificações regulamentares”, afirmou Martins.

Segundo a Anfavea, a adoção da mistura com 30% de etanol anidro é vista como uma medida relevante na transição energética. A entidade destacou os benefícios ambientais do etanol e o papel da tecnologia Flex no processo de descarbonização.

Martins também comentou sobre a possibilidade de um futuro aumento da mistura para 35%, conforme previsto na Lei do Combustível do Futuro. De acordo com ele, a Anfavea defende que “sejam realizados estudos técnicos semelhantes aos conduzidos para o E30, a fim de assegurar a viabilidade e a segurança da medida”.

Montadoras e parlamentares contestam os alertas

Por outro lado, defensores citam laudos técnicos de montadoras como Volvo e Scania, que atestam segurança no uso de teores maiores de biodiesel. Também argumentam que outros países já adotam percentuais superiores, como os 40% registrados na Indonésia. O setor defende a adoção de boas práticas de armazenamento e um programa de rastreabilidade, que ajude a identificar falhas e garantir a qualidade dos combustíveis.

No caso da gasolina, a alternativa para veículos mais sensíveis seria o uso da gasolina premium, que mantém o limite atual de 25% de etanol anidro. No entanto, a distribuição do produto ainda é limitada, e muitos postos não têm estrutura para oferecer dois tipos diferentes de gasolina.

Fonte: Olhar Digital

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