Más notícias sempre exerceram mais sensações sobre as mentes do que as boas notícias. Um estudo realizado com indivíduos de dezessete países indicou que as pessoas costumam prestar mais atenção em notícias negativas. O Brasil figurou como um dos países em que há evidências mais claras desse comportamento. Nas cidades pequenas, muito antes da existência das redes sociais, havia sempre a tal senhorinha, de portão em portão, com o discurso: “Sabe quem se desquitou? O fulano da farmácia por causa da…” ou “A comadre beltrana está com doença ruim. Fiquei sabendo pela sobrinha…” Os olhos arregalados e suspiros de surpresa eram a gratificação pela missão malfazeja. Por sua vez, as pessoas se deleitavam em receber as notícias e ruminá-las. Era a sensação do “enfim, algo de novo debaixo do céu”. Acontece que este hábito não ficou confinado aos anos 1960. Mary McNaughton-Cassill, professora da Universidade do Texas-San Antonio, realizou pesquisas sobre a relação entre consumo de notícias e ansiedade e concluiu que essas notícias negativas levam a níveis aumentados de desamparo, desesperança, depressão, isolamento, ansiedade, desprezo e hostilidade para com os outros. Outro impacto relevante da má notícia sobre uma população, é o medo. Penso que ao longo dos últimos quinze meses, nossa sociedade passou a provar, com intensidade e frequência, alguns medos que pareciam muito distantes, sendo um deles o medo da má notícia. Há quem liga a TV e começa a passar mal, suar frio e precisa logo desligar. Há quem diga que nos últimos meses deixou de assistir a jornais, sabendo do impacto emocional das notícias calamitosas. Na Grécia Antiga e também nos domínios de Roma, os soldados tinham tanto medo da má notícia quanto da guerra. Por uma razão. Quando o exército era derrotado, um soldado era escolhido entre os sobreviventes para levar a notícia da derrota ao imperador, a chamada “kakánéa”, isto é, a má notícia. Normalmente este soldado, portador da má notícia era morto. Parece que a analogia é perfeita. As más notícias continuam a trazer a morte a conta-gotas. Morte existencial, espiritual e emocional. Mas pior do que isso, assim como as drogas, as más notícias viciam (talvez isso explique a senhorinha da cidade nos anos 60). Shana Gadarian, professora associada da Escola Maxwell da Universidade de Syracuse, que estudou amplamente o tema, concluiu que, más notícias viciam, em razão da adrenalina que entra na corrente sanguínea, o que não acontece com alguém recebendo uma boa notícia. Quem acostuma a receber adrenalina nas veias, precisará, com o tempo, de uma dose cada vez maior, para provar o efeito “sensação” ou “comoção”. Experimentos também mostraram que as notícias incitam altíssimos índices de ódio. Pois bem, o termo grego utilizado pelos apóstolos para anunciarem a chegada do Reino de Deus aos homens parece perfeito: evanguélion, ou “evangelho”, que significa “boas novas” ou “boas notícias”. A etimologia da palavra faz menção àquele soldado que após a vitória da legião, era enviado para Roma afim de levar a boa nova da vitória. Este era condecorado por ser o portador do “evangelho”, isto é, a boa notícia. Talvez estejamos no momento exato em que precisamos, de forma realista, valorizar as boas notícias e filtrar as demais. Que Deus nos ajude a isso!
*Reverendo Marcos Kopeska é escritor e psicólogo