Há duas semanas estamos escrevendo sobre o tema e hoje podemos abrir um pouco mais o horizonte, abordando os principais sintomas. Sintomas são indicativos de que algo não está bem. Acontece que costumamos ser “teimosos” conosco mesmos, rejeitando o tratamento e até mesmo o acompanhamento médico. Quem está mais próximo a nós tem maior percepção a nosso respeito. Talvez você já tenha ouvido a expressão “ponto cego”. O termo grego “stocoma”, ou “escuridão”, é uma região do campo visual que apresenta perda total ou parcial da acuidade visual, rodeada de uma outra região em que a visão normal está preservada. O que eu não quero ver, ou, não percebo; isto pode se agravar ou se transformar numa neurose. Alguns indicativos podem sinalizar que alguém precisa de ajuda:


1) Sono irregular.

Nos depressivos, o nível de cortisol tende a permanecer baixo o dia inteiro, daí as dores constantes, inflamações por qualquer motivo, cansaço muito além do normal e, principalmente alteração no padrão de sono. “Meu marido implorava para que eu saísse da cama, mas não havia como atendê-lo; a cama era o meu refúgio.” Esta é parte do depoimento de uma senhora que passou por esta densa nuvem.

2) Alteração no apetite.
Não se sabe ao certo exatamente a razão do apetite desequilibrado, mas para a maioria das pessoas em depressão, não há nenhuma vontade de se alimentar a comida parece não ter gosto. Em outras situações o apetite é atípico, intenso, e por um tipo de alimento apenas. Neste estado as pessoas têm muita fome e consomem grande quantia de glicose e carboidratos, o que faz com que, se prolongada, a depressão sofram com o incômodo do sobrepeso. O autocontrole e o acompanhamento de um nutricionista são de fundamental importância.

3) Vazio de sentido.
A tese do conhecido psicólogo, pai da logoterapia, Viktor Frankl, era que a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para a sua vida. Sem sentido para a vida, a vida perde a razão. Ele escreve: “…se não existir algum sentido para seu viver, uma pessoa tende a tirar-se a vida e está pronta para fazê-lo mesmo que todas as suas necessidades sob qualquer aspecto estejam satisfeitas. Por outra parte vemos pessoas que são felizes em condições adversas, mesmo se terríveis.”

4) Medo sem causa.
É comum o depressivo sentir um medo interior, sem localizar a causa. Chora com facilidade quando assiste notícias trágicas, com a sensação de que tais catástrofes estão se aproximando com rapidez. Alguns têm a sensação de morte iminente, crises de angústia, taquicardia e pensamentos pessimistas exagerados. Sente um misto de medo do presente e do futuro. É comum os homens deprimidos sentirem medos ligados à autoestima como: medo do desemprego, da velhice, medo de passar por necessidades financeiras, medo da impotência sexual… enquanto as mulheres têm medo do desamparo, da rejeição, medo que os filhos sofram algum mal; mas quase sempre são sentimentos sem indicativos palpáveis de que possam se tornar realidade. Ambiguamente, são temores intensos, mas infundados.

5) Baixa estima.
O depressivo tende a argumentar: “Produzir-me para quem?” ou “Para que me esforçar?” Às vezes, são episódios pontuais que se resolvem de forma relativamente rápida. Outras vezes, no entanto, se transformam em atitude constante. Acontece que tomar banho, usar roupas limpas e parecer basicamente arrumado faz parte de uma vida saudável. É estímulo para vivermos de bem conosco. É fato que a imagem que temos de nós mesmos não é herdada ou determinada pela genética, mas é aprendida. Por exemplo: se você se vê como um perdedor, não vai nem ao menos tentar competir. Há crenças que ao longo da vida vão construindo a autoimagem negativa: “Isso não é para mim!” ou “Nunca consegui sair do buraco econômico, não seria agora que as coisas iriam dar certo.” ou “Nem eu me aguento mais!”. Walter Riso, terapeuta familiar, afirma: “A visão negativa que se tem de si mesmo é um fator determinante para o surgimento de transtornos psicológicos.” Aí creio que causa e efeito podem se alternar.

6) Tristeza constante.
Por vezes, ao longo do dia o depressivo há de sentir tristeza sem causa aparente. Por vezes com causas, mas em intensidade desproporcional à circunstância. Tristezas ligadas ao passado, às frustrações, às perdas não superadas. Sentimentos até então saudáveis como a saudade, por exemplo, para o depressivo se desdobram em angústia.

7) Pessimismo exacerbado.
O depressivo, ao longo do seu adoecimento vai se tornando cada vez mais pessimista consigo mesmo, com a carreira profissional, com as pessoas, com a vida e isso ele deixa exalar em todos os ambientes. Nada lhe acende alguma expressão de ânimo. Segundo a Wikipédia, “O pessimismo é uma atitude mental negativa em que se antecipa um resultado indesejável de uma determinada situação. Os pessimistas tendem a se concentrar nos aspectos negativos da vida em geral. Uma pergunta comum feita para testar o pessimismo é: ‘O copo está meio vazio ou meio cheio?’; nessa situação, diz-se que um pessimista vê o copo meio vazio, enquanto um otimista vê o copo meio cheio.” Enfim, muitos outros sintomas além destes podem indicar que alguém está em depressão ou a caminho dela. Citei os principais. Tratando-se destes sintomas, dois ou três somados, não hesite em buscar ajuda de um médico especialista.

Marcos Kopeska Paraizo
Pastor, graduado em Teologia e pós graduado em Terapia Familiar, pós graduado em Saúde Mental, escritor e palestrante. Autor dos livros “Superando a Dor no Luto” e “Enfrentando e Superando a Depressão” (na Livraria Manah Books, esquina da R. 24 de dezembro e R. 9 de julho – centro Marília).

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Série: conhecendo a depressão, o “mal do século”; Sintomas e Alertas