Em 28 de abril, a Associação Nacional LGBT+ e a Rede Gay Latino vão lançar uma cartilha com a visão de grupos gays sobre a Bíblia. O manual analisa passagens do Livro Sagrado consideradas discriminatórias e busca inseri-las em um “contexto atual”.
Ao anunciar a divulgação, a página oficial do movimento informou: “‘E eu te darei as chaves do reino dos céus’ é o versículo que orientou a elaboração desta publicação, movida pelo desejo de escancarar os armários que há tanto tempo aprisionam as experiências divergentes de gênero e sexualidade nos cristianismos”.
“Nossa alternativa, para quem o cristianismo ainda faz algum sentido, é buscar nossas próprias formas de ler não apenas esses textos, mas a mensagem bíblica como um todo”, observa trecho do texto. “No que segue, são apresentados alguns exercícios possíveis para libertar a mensagem bíblica e espiar pela fechadura.”
O documento de 130 páginas divide-se em “armários” e “chaves”. Cada capítulo é uma nova abertura, “criando saídas que permitam reconhecer e celebrar as individualidades, as diferenças e as singularidades de cada pessoa que se coloca nessa jornada em direção a uma vivência libertária do cristianismo”.
Em determinado trecho, a cartilha ensina a respeito das identidades de gênero que o manual diz existirem, entre elas, a “não binaridade”, “cisgeneridade” e “transexual”.
Também o manual afirma que supostos preconceitos contra pessoas LGBT+ se condensaram na chamada “ideologia de gênero”. “Forjada inicialmente por grupos católicos romanos, nos anos 1990, essa expressão foi adotada e disseminada por segmentos de outras denominações cristãs e por grupos e pessoas que usam uma linguagem cristã”, observa o texto. “O objetivo é demonizar a categoria ‘gênero’ — uma ferramenta nascida nos estudos feministas para analisar padrões de identidade e de relação que sustentam desigualdades e violências estruturais — e, assim, deslegitimar ao mesmo tempo o campo de estudos de gênero, os movimentos LGBTI+ e feministas e as lutas pela garantia e pela expansão de direitos sexuais e reprodutivos e à livre expressão de gênero.”
PECADO
O papa Francisco disse recentemente que “a criminalização dos homossexuais é uma injustiça” e “um pecado” que “não se deve deixar passar”.
As declarações foram feitas a bordo do avião papal, na volta da viagem do pontífice à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, quando questionado por um repórter sobre a perseguição sofrida por homossexuais em alguns países africanos.
Francisco reiterou o que já havia afirmado anteriormente: “se uma pessoa é homossexual e crente e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?”
“Eu tenho dito que a criminalização da homossexualidade é um problema que não deve ser deixado de lado. Acho que o cálculo está próximo de 50 países que de uma forma ou de outra os criminalizam – alguns dizem que há ainda mais. E alguns desses, cerca de 10, têm até pena de morte para homossexuais. Isso não é justo”, enfatizou o papa.
Reiterando o que havia dito em uma entrevista recente à agência de notícias Associated Press (AP), o papa disse que as “pessoas com tendências homossexuais são filhas de Deus”.
“Deus ama-os, Deus acompanha-os e condenar tal pessoa é um pecado”, argumentou.
“Criminalizar pessoas com tendências homossexuais é uma injustiça. Não estou falando de grupos, isso é outra coisa, lobbies são outra coisa. Estou falando de pessoas e o catecismo da Igreja já diz que ninguém deve ser marginalizado”, acrescentou.