Em tempos de comunicação rápida, troca de e-mails e mensagens por whatsapp a prática da escrita vai ficando cada vez mais distantes. Parece que neste mundo moderno não cabem mais aqueles textos longos, com argumentações e floreios que enriqueciam a narrativa. A moda agora é ser prático, objetivo e o mais sucinto possível, caso contrário a atenção do ouvinte/leitor pode ser perdida em questão de segundos.
Mesmos as revistas impressas estão tendo que se reinventar para cativar a atenção. Exemplo prático disso, caro amigo leitor, é o fato de você estar dedicando alguns minutos da sua atenção para folhear e ler os textos da nossa D Marília. Se o faz é porque ela consegue ser provocante com suas páginas sempre muito coloridas e design moderno e ilustrada com fotos de exultante bom gosto que tornam a leitura mais prazerosa. Este é o toque mágico da receita de sucesso.
Toda esta mudança deve estar sendo muito discutida nas salas de aula do ensino fundamental e do ensino médio e certamente está dando muito trabalho aos docentes da língua portuguesa. Como ensinar uma geração a escrever, a utilizar palavras e concordâncias verbais e não verbais? A escrita tem seus mistérios e pode utilizar das provocações cognitivas para transferir conteúdos, conceitos ou até mesmo valores que nem sempre estão expressos num primeiro plano. Porém, ao se fazer a sua interpretação percebemos a real intenção do escriba na produção do texto.
Professores de português sempre foram muito criativos neste sentido. Utilizam de artimanhas e práticas que nos levam a desenrolar a língua, a conhecer a gramática e a produzir textos a partir de um tema proposto. Práticas estas que se repetem ainda hoje, como nos vestibulares onde o bom desempenho na redação pode ser o diferencial no ranking para o ingresso no curso superior dos sonhos.
Foi assim que a professora Celmira Malta Rolim, do Grupo Escolar Thomaz Antônio Gonzaga, durante os anos de 1974, 1975 e 1976 pensou uma estratégia para perpetuar o aprendizado e as relações pessoais. Visionária e inspirada, ela guardou a primeira redação dos seus alunos, a “primeira composição”, para entregar no futuro quando alcançassem o ingresso no ensino superior ou já desfrutando da vida adulta.
Em vida, ela teve o prazer de entregar muitas destas composições. Teve a alegria de abraçar seus pupilos e, naquele momento, sentiu que sua missão educadora deu frutos. Imagine você leitor (a) ser procurado por sua professora após 20 anos ou mais e receber a sua primeira composição da primeira série no primário. É muito capricho e amor da parte dela, não é mesmo?
Mesmo após sua partida a missão continua e agora quem cumpre o papel de “carteira” é a amiga da família Akemi Fuonke, que busca pelos ilustres autores para entregar as redações que restaram na gaveta da mestra. Sim, uma composição que pode trazer muita alegria e boas lembranças para crianças que no passado pensavam estar apenas escrevendo palavras numa folha de papel em branco e depois ler na frente da sala.
Não por acaso professores e professoras são chamados de mestres. Eles entram em nossas vidas para transformar e nos dão a segurança de saber que seremos vencedores.

E por falar em inspiração, talvez, seja por isso mesmo que a nossa primeira cartilha de língua portuguesa tenha sido batizada de “Caminho Suave”. E você, se lembra da sua primeira composição?
 
Ivan Evangelista Jr é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
*contatos com Akemi Fuonke (akemi.fuonke@gmail.com)
 

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