Talvez você já ouviu expressões como: “Minha vida está uma muvuca!” ou “Este setor virou uma muvuca!” Você sabe de onde pinçamos o termo “muvuca”?
Pois bem, o termo VUCA foi utilizado no final dos anos noventa, teve origem no meio militar norte americano, depois migrou para o meio empresarial e passamos a usá-lo como “muvuca”, na gíria brasileira.
Trata-se de uma sigla utilizada para descrever ou refletir sobre a volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity) das condições e situações. Quando pensamos em nossa sociedade não há como nos desvincularmos destes elementos.
Vivemos numa sociedade de mudanças rápidas. Aliás, alguns conceitos que começamos a sedimentar hoje, são questionáveis amanhã e obsoletos logo depois. É a volatilidade. Vivemos num mundo em alta velocidade na tecnologia, na cibernética, na informação, no transporte…
Penso que quando a velocidade de transformação de uma sociedade ultrapassa a capacidade de absorção desta sociedade, acontece um turbilhão, ou um redemoinho. A aceleração da logística da vida (algo bom), provocou a aceleração do ser (algo ruim).
Explico. A informática nos proporcionou agilidade e funcionalidade tal que ganhamos muito tempo ao longo do dia. Há dez anos, uma decisão da igreja demandava uma convocação, uma reunião e horas de ponderações. Hoje em meia hora, no grupo de WhatsApp do Conselho, resolve-se com coerência e rapidez todas as demandas menores.
Em contrapartida, o ser humano tornou-se veloz e parece se perder, tropeçar nas próprias pernas, em corrida desenfreada. Acelerou na tentativa dos ganhos secundários.
Por exemplo, uma amizade que não dá “retorno” em seis meses é discretamente colocada no “freezer”.  Um namoro que não atende aos interesses de satisfação ou perfeito ajuste, em um ano é interrompido, assim como um funcionário que em três meses não corresponde na relação custo & benefício, é substituído.
Esse comportamento também atinge a igreja. É o turbilhão da vida. É natural que, em decorrência, tenhamos um mundo caracterizado pela incerteza. A vida está se tornando cada vez mais imprevisível. Você sabe o que será da economia brasileira daqui cinco meses?
Você conseguiria prever qual é o destino profissional dos jovens que estão para se formar na faculdade neste fim de ano? Você que ainda não se aposentou pode afirmar quando vai se aposentar? Você consegue se planejar para os próximos dez anos? Pois é! Isso é incerteza.
A seguir vem o fenômeno da crescente complexidade da sociedade. Este termo reflete as inúmeras causas difíceis de compreender, os fatores envolvidos num problema e as estruturas burocráticas cada vez mais rígidas.
As organizações estão cada vez mais complexas e o meio corporativo intricado em sistemas que exigem preparo cada vez maior dos colaboradores. As cidades e as sociedades tornam-se cada vez mais complexas.
A igreja, ambiente que deveria ser a expressão da mais serena simplicidade, transformou-se em uma esfera carregada de complexidade. Lembro-me de um encontro de pastores em que ao final cada um de nós deveríamos escolher um anseio que correspondia ao momento em que vivia. Muitos escolheram a “volta à simplicidade do evangelho”, inclusive eu.
Peter Drucker, o pai da administração moderna, alertava de que “a simplicidade tende ao desenvolvimento, a complexidade à desintegração”, mas parece que escolhemos a contramão deste viés.
O quarto elemento da vuca é a ambiguidade. Este termo significa a falta de clareza sobre o significado de um acontecimento. Tem a ver com imprecisão, dúvida, indecisão, vacilação… “Qual a interpretação que posso fazer deste acontecimento?” Por vezes parecemos crianças perguntando se as zebras são pretas com listras brancas, ou brancas com listras pretas.
Talvez você já chegou à conclusão de que não somente seu escritório ou sua escrivaninha, mas a existência está uma muvuca. Sempre que enfrento momentos de agitação, recordo-me do Salmo 46:10 “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”.
Se as inquietações da vida estão lhe tirando do eixo e da velocidade, descanse seu coração em Deus. Busque-o como uma criança busca os braços do Pai para dormir depois de uma tarde de traquinagens.
Conta-se que Hudson Taylor, missionário pioneiro para a China, estava profundamente angustiado pelas responsabilidades que o deixavam abatido. Enquanto ele orava por força divina para continuar seu ministério, veio à sua mente o Salmo 55:22 “Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá.”  Que Deus nos alivie e nos sustente na muvuca da vida.  
 
Marcos Kopeska é bacharel em Teologia (UMESP), pós graduando em Terapia Familiar Sistêmica (INDEP), pastor da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de Marília e escritor.
 

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