Na sociedade em que vivemos, cultivamos o (mau) hábito de medir nossos semelhantes com a nossa própria regra, ou seja, o comportamento do alheio é, para nós, sujeito à nossa aprovação ou consideração ou apenas indiferente. Não levamos em conta a história pessoal de cada um, o impulso que dimensiona o modo de agir do outro ou a motivação que o domina. E, uma vez julgado o comportamento dele, é muito raro reconsiderarmos a solução de aprovação ou não.
O julgamento que adotamos, segundo nossos parâmetros é definitivo e irrecorrível. Por exemplo: há um consenso geral que o mais forte sempre abusa do mais fraco. Não se questiona a conduta de quem assim age, para se estabelecer os motivos do abuso ou pretenso abuso. As emoções humanas são permeadas de julgamentos precipitados e infundados, sem atribuir importância aos resultados desse veredicto. Na mesma medida, somos especialistas em criticar comportamentos alheios, como se fôssemos criaturas bem-aventuradas e isentas de falhas.
Nas palavras do ilustre jurista Renato Laércio Talli, em seu livro Subsídios para viver, há o seguinte comentário: “hoje, com que facilidade se critica a tudo e a todos. O culpado é sempre o outro, esquecido que para o outro quem critica é o outro. A crítica só tem sentido quando construtiva. A crítica do homem honesto é construtiva. A crítica do amigo é amável, saudável e oportuna.
Não criticar o que não se conhece, é juízo de sabedoria. Exprimir um juízo, formular uma crítica, pressupõe o perfeito conhecimento, em todos os seus aspectos, do que é objeto de consideração”. Porém, a despeito de termos plena consciência dessas restrições, como é difícil sopitar a vontade de dar palpite na atitude alheia, sobretudo se essa vontade for de criticar ou escavar um defeito.
Tolerar a verdade alheia, como queremos que tolerem a nossa exige, certamente, um cansativo exercício de tolerância e boa vontade. A vida do ser humano tem inúmeras facetas e é guiada pelos mais variados sentimentos, opções, critérios, preferencias e emoções, que devem ser respeitadas ou, em melhor hipótese, ignoradas. Afinal, como já se definiu: “toda unanimidade é burra” de modo que “o que seria do azul, se todos gostassem do amarelo?”
Em todo caso, temos que concordar que somos apenas humanos e imperfeitos e assim, tais avaliações compõem a vida que segue.
Décio Divanir Mazeto é Juiz de Direito