ESPECIAL EDUCAÇÃO 2022 – por Fernanda Serva – Unimar

Num passado não muito distante, a formação de um profissional tinha como objetivo capacitá-lo para exercer determinada função técnica que, com bastante frequência, era desempenhada por toda uma vida. Tínhamos o profissional de empresa, muitos deles com apenas um vínculo empregatício anotado em sua Carteira de Trabalho.
Esse profissional crescia com a empresa. As máquinas eram gradativamente substituídas por versões mais modernas e os técnicos que com ela trabalhavam iam se capacitando para desenvolver atividades mais complexas, tudo no seu devido tempo.
Veio a modernidade, a pós-modernidade, a pós-pós-modernidade e a velocidade das transformações, tanto sociais, quanto profissionais aumentou de forma vertiginosa.
Nesse cenário, surge a era digital, na qual praticamente tudo pode ser acessado em um piscar de olhos. As informações chegam a praticamente todos os cantos do mundo em uma fração de segundo.
O homem se encanta com tanta tecnologia e passa a desfrutar dela.
Toda essa inovação tecnológica exige um novo profissional, muito mais ágil e aberto a transformações, disposto a se reinventar a cada momento, assim que necessário. Já não basta ter a capacidade de exercer determinada função técnica ou operar determinada máquina ou sistema. É preciso estar aberto a aprender, a cada dia, uma nova lição. A cada dia, superar um novo desafio.
Assim, homens e mulheres passam a necessitar de novas ferramentas para desempenhar de forma adequada suas atribuições e funções, e as instituições de ensino, dentre elas as universidades, assumem o papel de fornecer a eles tais ferramentas técnicas, as chamadas “hard skills” (habilidades técnicas), além das chamadas “soft skills” (habilidades emocionais).
Neste contexto, as instituições de ensino (inclusive as universidades devem buscar novas formas de promover ensino e aprendizagem, gerando um conhecimento pluriversitário, ou seja, um conhecimento que não visa apenas atender ao seu consumo interno, mas, também, atender aos anseios da comunidade na qual elas estão inseridas.
É certo que a Covid-19 nos trouxe muita dor e tristeza, mas ela também serviu para que o ser humano se redescobrisse, se reumanizasse.
Ficou evidente que não basta ter conhecimento técnico, pois muitos dos novos desafios surgem do desconhecido e, nestes momentos, ter serenidade e controle emocional pode fazer muita diferença.
Se antes as “hard skills” (capacidade técnica) era o mais importante, agora as “soft skills” (capacidade emocional) assume o protagonismo.
Nesse aspecto, parece-me que o grande desafio é justamente este: buscar o perfeito equilíbrio entre o desenvolvimento de capacidades técnicas com as capacidades emocionais,
cenário em que as universidades saem ganhando, em especial por terem a obrigação constitucional de congregarem, em seu agir, atividades que atendam ao tripé acadêmico de ensino, pesquisa e extensão.
O mais importante já não é transmitir para o aluno apenas o conteúdo engessado de uma matriz curricular rígida, e sim permitir que ele se desenvolva, a partir de sua própria jornada de estudo.
O currículo passa a ser concebido como uma trilha de aprendizagem, que envolve não apenas a incorporação de conhecimento por meio de textos técnicos, mas pode envolver a utilização de músicas, filmes, vídeos, peças teatrais, artes etc.
Já não basta formar um profissional, pois é necessário formar um novo cidadão, capaz de desenvolver suas potencialidades dentro de um mundo repleto de transformações quase que instantâneas.
Esse cidadão, contudo, também precisa ser relembrado de que, apesar da era ser digital e do adjetivo digital poder ser atribuído a quase tudo (livro digital, mundo digital e, inclusive, cidadão digital), antes de tudo, ele é um ser humano, movido a paixões.
Assim, o grande desafio de ensinar e formar cidadãos na era digital é fazê-lo apaixonar-se pelo conhecimento, pelo saber, pela natureza, pelas pessoas e pela vida.

Fernanda Mesquita Serva é advogada, doutora em Educação e Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Ação Comunitária da Unimar

Compartilhar matéria no
Como vencer os desafios de ensinar e formar cidadãos na era digital?
Fernanda Mesquita Serva - Unimar