Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
O U.S. Preventive Services Task Force, um grupo de especialistas que analisa evidências científicas em medicina preventiva e discute novas recomendações, emitiu uma atualização sobre o rastreamento do câncer de mama. Agora, todas as mulheres a partir dos 40 anos são aconselhadas a realizar mamografias a cada dois anos, de acordo com as novas diretrizes. Essa mudança substitui a orientação anterior, que sugeria a realização da mamografia aos 50 anos, com mulheres entre 40 e 49 anos sendo incentivadas a considerar o exame com base em seus fatores de risco pessoais.
As recomendações da Task Force são consideradas “padrão ouro” por serem baseadas em evidências. Geralmente, médicos e planos de saúde americanos as seguem. As novas diretrizes, publicadas em 9 de maio, foram atualizadas com base em uma revisão científica abrangente e reforçam o que as sociedades médicas preconizam: o rastreamento deve ser realizado mais cedo, uma vez que o número de casos de câncer em mulheres mais jovens tem aumentado e a doença tende a ser mais agressiva nessas faixas etárias. Estima-se que entre 15% e 20% dos diagnósticos ocorram em mulheres de 40 a 49 anos.
O câncer de mama é o segundo tipo mais comum entre as mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) projeta quase 74 mil novos casos diagnosticados em 2023. Quando descoberto em estágio inicial, as chances de cura do câncer de mama podem chegar a 95%, e a mamografia e o ultrassom desempenham um papel essencial nisso. Além disso, estudos indicam que a mamografia pode contribuir para a redução da mortalidade por câncer de mama em até 40%.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que o rastreamento do câncer de mama por meio da mamografia ocorra somente em mulheres de 50 a 69 anos – também a cada dois anos, em seus exames de rotina. Porém, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) seguem o protocolo da American Cancer Society e recomendam que a mamografia seja feita anualmente, a partir dos 40 anos.
Segundo a mastologista Danielle Martin Matsumoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, o fato de a U.S.Task Force mudar as orientações é um ganho muito importante porque reforça e apoia o que as sociedades médicas já vinham recomendando há mais tempo.
“Vários estudos têm demonstrado que as mulheres que mais se beneficiam do rastreamento com mamografia são justamente aquelas a partir dos 40 anos, que têm tumores mais agressivos e, se forem diagnosticados mais precocemente, têm maiores chances de cura”, afirmou Matsumoto.
Segundo a mastologista, pensando em saúde pública, é fundamental ampliar o acesso ao exame, que ainda é distribuído de forma muito desigual pelo país. “Aqui temos mulheres com mais de 40 anos que vão aos postos de saúde pedir para fazer mamografia e não podem porque essa não é a recomendação atual do Ministério da Saúde. Por isso, o diagnóstico muitas vezes acaba ocorrendo em um estágio mais avançado da doença”, diz a especialista, ressaltando que a mamografia ainda é um exame restrito a um grupo muito pequeno de mulheres.
Segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, suas associadas realizaram cerca de 1,2 milhão de mamografias em 2021. A entidade estima ainda que foram feitas 8,1 milhões de mamografias no país, sendo 4,6 milhões na saúde suplementar e 3,5 milhões no SUS.
Para Matsumoto, um único ponto que pode ser questionado na mudança de recomendação do U.S. Task Force é a periodicidade do exame – eles recomendam o rastreamento a cada dois anos e não anualmente. “O que as evidências têm demonstrado é que mulheres mais jovens tendem a ter cânceres mais agressivos e que aparecem com mais frequência no intervalo entre uma mamografia e outra. Se a mulher faz o exame a cada dois anos, ela pode perder a chance de detectar o tumor em estágio mais inicial, quando ele ainda não é palpável. Recomendamos fazer o rastreamento anual justamente para termos mais chances de descobrir mais cedo o que chamamos de ‘câncer de intervalo'”, explica.
Fonte: Agência Einstein