A forma como um medicamento é entregue ao nosso corpo, por via oral ou intravenosa, muda como o cérebro reage e gera até efeitos diferentes. Neste ponto, receber uma injeção ou fumar uma substância é uma forma muito mais rápida para sentir os primeiros efeitos que engolir um comprimido ou inalar uma medicação.

Os médicos e cientistas sabem disso há anos, mas o porquê desse mecanismo ainda é um mistério. Para começar a desvendar essa história, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde (NIH), nos Estados Unidos, realizaram um estudo clínico, analisando como a via de entrega de um medicamento modifica a resposta do cérebro. Os resultados foram compartilhados na revista Nature Communications.

Impacto do remédio no cérebro

Dentro desse contexto com diferentes respostas cerebrais possíveis, os remédios (ou drogas) que chegam, em primeiro lugar no cérebro, são consideradas mais viciantes. É o caso da heroína injetável em comparação a uma droga embalada na forma de um comprimido. Inclusive, as drogas injetáveis mais comumente provocam overdoses.

“Quanto mais rapidamente uma droga entra no cérebro, mais viciante ela é”, reforça Nora Volkow, autora sênior do estudo, em nota. “Agora, usando uma das mais novas e sofisticadas tecnologias de imagem, temos alguns insights” para explicar esse processo, afirma.

Testando pílulas e injeções

No estudo clínico, os pesquisadores recrutaram 20 adultos saudáveis para receber uma dose do medicamento estimulante metilfenidato — normalmente conhecido como Ritalina e prescrito para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) — ou de um placebo.

Injeções provocam mais efeitos no cérebro que pílulas (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)
Injeções provocam mais efeitos no cérebro que pílulas (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)

Os voluntários foram divididos em quatro grupos:

  • Primeiro grupo: metilfenidato por injeção;
  • Segundo grupo: placebo por injeção;
  • Terceiro grupo: metilfenidato por via oral (comprimido);
  • Quarto grupo: placebo por via oral.

Em seguida, os pesquisadores analisaram as diferenças nos níveis de dopamina, através de imagens de uma tomografia por emissão de positrões (PET). Também foi medida a atividade cerebral por meio de uma ressonância magnética funcional (fMRI). Os pacientes relataram o que sentiam, como euforia, durante o processo.

Analisando os resultados

Como esperado, receber o medicamento por via intravenosa foi muito mais eficaz. O pico de dopamina foi alcançado em um intervalo de 5 a 10 minutos após a injeção. Enquanto isso, os comprimidos levaram cerca de uma hora para fazer efeito.

O que chamou a atenção da equipe, no entanto, foi que duas regiões cerebrais só foram ativadas com o uso das injeções: o córtex cingulado anterior dorsal e a ínsula, que integram a rede de saliência ou de importância do cérebro. É a rede responsável por tornar as medicações aplicadas por via intravenosa mais viciantes, segundo os autores.

De acordo com os pesquisadores, os voluntários só descreveram a sensação de euforia quando a rede de saliência estava ativada. Conforme o seu nível de atividade nessa parte do cérebro reduzia, era comum a passagem do estado de excitação, demonstrando a forte relação.

Agora, o próximo passo da pesquisa é entender se a rede de saliência pode ser bloqueada. Se isso for possível, os cientistas querem entender se a aplicação de injeções pode ser feita, sem provocar a sensação de euforia. Eventualmente, isso abrirá novos caminhos para o tratamento da dependência química.

Fonte: Nature Communications NIH    

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Comprimido ou injeção? A forma de tomar remédio muda como o cérebro reage
Foto: Myriams-Fotos/Pixabay