O congelamento de óvulos é um procedimento da Reprodução Assistida que está em alta em todo o mundo. Isso é reflexo de uma mudança de comportamento das mulheres que estão postergando a maternidade. Desta forma, seja pela vida profissional, por escolhas pessoais ou falta do parceiro, nota-se que muitas mulheres decidem engravidar mais tarde.
Nesse sentido, a gravidez programada (quando a mulher se planeja para ter um filho) vem acontecendo cada vez mais tarde. Assim, a média de idade que elas têm tido o primeiro filho já supera os 30 anos.
“A Medicina Reprodutiva tem utilizado a técnica de congelamento de óvulos como uma das formas para tentar preservar a fertilidade feminina, já que ela vai diminuindo com o passar dos anos, diferentemente dos homens, que permanecem férteis por toda a vida”, explica o médico especialista em reprodução humana, Dr. Nilo Frantz, da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, em São Paulo.
O especialista detalha mais informações sobre o procedimento, que vem sendo realizado por muitas mulheres no país.
“O congelamento de óvulos, também chamado de criopreservação, é a técnica de preservação dos óvulos em nitrogênio líquido, por meio de vitrificação. Nesse sentido, o congelamento de óvulos é um tratamento para postergar a possibilidade de ter filhos”, pontua Frantz.
Este procedimento foi realizado pela primeira vez em 1986 e, desde então, o método progrediu significativamente. Vale ressaltar que, nos primeiros anos, a taxa de gravidez a partir de óvulo congelado era muito baixa (cerca de 1%). Isso acontecia porque a técnica utilizada para o congelamento criava cristais de gelo que danificavam a estrutura da célula.
No entanto, com a introdução da técnica de vitrificação, em 2006, a taxa de qualidade e de sobrevivência dos óvulos, depois do descongelamento, aumentou para 95%. Desta forma, de acordo com dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), a procura por congelamento de óvulos com o intuito de adiar a maternidade triplicou nos últimos anos.
Sendo assim, esta técnica é considerada como um dos avanços mais importantes da Medicina Reprodutiva dos últimos tempos.
“Sabe-se que as mulheres entre 20 a 30 anos estão biologicamente no auge da fertilidade. Portanto, o ideal é fazer o congelamento de óvulos nesse período. Muitas mulheres deixam para recorrer ao procedimento aos 38, 39 ou até 40 anos, porém, as chances de sucesso diminuem muito. Isso porque o envelhecimento reduz significativamente a quantidade e a qualidade dos óvulos produzidos, interferindo diretamente nas chances de uma gravidez”, explica o especialista.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRA), a idade limite para o congelamento de óvulos é de 35 anos.
O especialista explica que o congelamento é indicado por diversos motivos, mas mais procurado por mulheres que pretendem engravidar após os 35 anos, ou que chegaram perto da idade e ainda não sabem se querem ter uma gestação.
“É importante esclarecer que as mulheres já nascem com um número de óvulos predeterminado e o seu organismo não é capaz de produzir mais. Sendo assim, com o avanço da idade, os óvulos envelhecem e, neste processo, a quantidade e a qualidade disponíveis para serem fertilizados também diminuem”, ressalta o médico.
Por esta razão, para aquelas mulheres que pretendem adiar a maternidade é recomendado o congelamento de óvulos. Entretanto, segundo o Conselho Federal de Medicina, a idade máxima para se submeter a um tratamento de reprodução assistida é de até 50 anos. Este limite foi escolhido por causa do risco obstétrico, já que após os 50, aumentam os casos de hipertensão na gravidez, diabetes e partos prematuros.
Outro fator que leva ao congelamento, é a menopausa precoce, um quadro clínico em que a mulher deixa de ovular e menstruar antes dos 32 anos de idade. Isso é considerado anormal já que o período natural para a falência ovariana é após os 40 anos.
“Sabe-se que a menopausa precoce pode se originar de vários fatores, como da própria genética, por exemplo. Desta forma, é importante que a mulher saiba identificar, no histórico da mãe e das avós, quando elas entraram na menopausa, pois há uma tendência que o cenário se repita”, pontua.
O especialista ressalta que independente dos fatores, é importante que mulheres com menopausa precoce possam preservar a sua fertilidade, congelando seus óvulos de forma preventiva. Assim, quando decidirem ter filhos, poderão usar os óvulos congelados, caso necessário.
Casos de mulheres que precisam se submeter a tratamentos oncológicos, como quimioterapia ou radioterapia, e que desejam ter filhos após a recuperação, têm a possibilidade de congelar os óvulos antes de iniciar o tratamento oncológico.
“Nestes casos, é fundamental avaliar primeiro o nível de agravamento da doença. Caso o câncer esteja em um estado avançado, e não for possível esperar por uma indução de ovulação, existe a possibilidade da retirada e o congelamento apenas de fragmentos de tecido ovariano. Assim, quando a mulher terminar o tratamento, estes fragmentos podem ser implantados novamente, para tentar a fertilização”, explica Frantz.
Quais são as taxas de sucesso de gravidez com óvulos congelados?
O médico aponta que desde 2006, com o desenvolvimento da “vitrificação”, técnica criada por cientistas japoneses, a taxa de sobrevivência do óvulo após o descongelamento se aproximou de 95%. Desta forma, as taxas de gravidez de óvulos congelados são praticamente as mesmas dos óvulos frescos.
“É importante esclarecer que a taxa de sucesso de uma gestação vai estar diretamente ligada à idade da mulher no momento em que os óvulos foram congelados e não na idade em que eles serão fertilizados e transferidos. Portanto, a possibilidade de uma gravidez futura em mulheres que congelarem seus óvulos depois dos 38 anos de idade é menor do que em mulheres que fizeram o procedimento mais jovens”, pontua.
Além disso, é importante esclarecer que cada caso é diferente do outro e é imprescindível que a mulher passe por uma avaliação médica para verificar a sua reserva ovariana e questões gerais de saúde. Da mesma forma, ela precisa do acompanhamento de um especialista em reprodução assistida durante todo o processo de congelamento de óvulos.
Como funciona o congelamento de óvulos?
Segundo o especialista, o congelamento de óvulos consiste em duas principais etapas. A primeira etapa de congelamento de óvulos possui alguns procedimentos que devem ser seguidos. Confira quais são:
Estimulação ovariana
A estimulação ovariana tem como principal objetivo produzir um número maior de óvulos maduros para serem congelados. Desta forma, a técnica é realizada através do uso de medicamentos, as gonadotrofinas, que promovem o amadurecimento dos óvulos.
Bloqueio Hipofisário
Esta técnica tem a função de impedir que a ovulação aconteça antes do momento da coleta dos óvulos, além de garantir maior precisão no acompanhamento do desenvolvimento folicular.
Aspiração e recuperação dos óvulos
Nesta fase, os folículos são aspirados através de uma agulha acoplada a um transdutor de ultrassom transvaginal, e o líquido colhido é encaminhado aos embriologistas para separarem os óvulos do conteúdo aspirado. Desta forma, o procedimento requer o uso de sedação endovenosa, ou seja, por via de injeção.
Congelamento
Para o congelamento dos óvulos, é utilizada a técnica de vitrificação, que se caracteriza pela rapidez com que atinge baixas temperaturas. Sendo assim, a velocidade da diminuição de temperatura na vitrificação é de – 23ºC por minuto, ou seja, 70 vezes mais rápido que o processo de congelamento lento.
Desta forma, os óvulos congelados ficam armazenados em um cilindro de nitrogênio líquido e são mantidos a -196º. Eles, por sua vez, ficam num estado vítreo, impedindo a formação de cristais de gelo, que danificam células reprodutoras.
2ª etapa: descongelamento e fertilização
A 2ª etapa do processo consiste no descongelamento dos óvulos, na fertilização in vitro (no laboratório) e na transferência do embrião para o endométrio da mulher. Confira abaixo, mais detalhes sobre cada procedimento.
Preparo do endométrio
O preparo do útero para receber os embriões pode ser considerado um processo simples. Se a mulher possui ciclos regulares, o procedimento pode ser feito dentro de um ciclo ovulatório espontâneo, acompanhado por ultrassom e dosagens hormonais.
Desta forma, no momento da ovulação, os óvulos são descongelados, fertilizados e a progesterona é introduzida.
Descongelamento e fertilização in vitro
No processo de descongelamento, os óvulos são retirados do nitrogênio líquido e aquecidos. Logo após, eles são encaminhados para o processo de fertilização.
Por último, os embriões terão o seu crescimento acompanhado até o quinto dia, e quando estiverem adequadamente desenvolvidos, em fase de blastocisto, são transferidos para o útero.
Transferência embrionária
Com os embriões de melhor qualidade separados e endométrio adequadamente preparado, a mulher poderá agendar a transferência embrionária.
O processo é indolor e consiste na introdução dos embriões no útero por meio de uma sonda (cateter) guiada por ultrassom abdominal. Normalmente, o procedimento é feito sem anestesia. Assim, depois de 10 dias, deve ser feito um exame beta HCG para confirmar a gravidez.
Caso positivo, a reposição de estradiol e progesterona é mantida até completar 12 semanas de gestação. A partir desse momento, a placenta já será capaz de produzir esses hormônios em quantidades adequadas.
Há riscos no congelamento de óvulos?
Dr. Nilo Frantz explica que é importante esclarecer que não há riscos em congelar óvulos, pois o processo de vitrificação garante a qualidade das células germinativas. Nesse sentido, o embrião resultante do óvulo congelado tem a mesma qualidade do embrião formado por um óvulo fresco.
“O congelamento de óvulos é um processo seguro que não traz riscos para a saúde da mãe e nem para a saúde do bebê. No entanto, é importante ressaltar que o procedimento deve ser realizado e acompanhado por um médico especializado, numa clínica capacitada e de confiança”, finaliza o especialista.