
Pesquisadores alcançam marco histórico na medicina ao reverter a doença autoimune com uma única aplicação de terapia genética em testes clínicos iniciais.
Em um avanço sem precedentes na medicina moderna, cientistas anunciaram uma possível cura para o diabetes tipo 1 por meio de uma única dose de terapia genética.
A descoberta, publicada recentemente na revista Nature Medicine, reacende a esperança de milhões de pessoas que vivem com a doença autoimune crônica, que até agora não tinha cura.
A doença e o desafio
O diabetes tipo 1 é uma condição autoimune em que o sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Sem esse hormônio, o corpo não consegue regular adequadamente os níveis de glicose no sangue, exigindo aplicações diárias de insulina e monitoramento constante.
“Tratar o diabetes tipo 1 sempre foi um grande desafio, porque não basta substituir a insulina – é preciso restaurar o funcionamento do sistema imunológico e regenerar as células destruídas”, explica a endocrinologista Dra. Helena Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que não participou do estudo.
A terapia inovadora
A equipe de cientistas, liderada pelo Dr. David Rawlings da Universidade de Washington, desenvolveu uma terapia genética baseada em células T reguladoras (Tregs), que foram reprogramadas para impedir o ataque autoimune. A técnica utiliza a tecnologia CRISPR para modificar as células do próprio paciente, que depois são reintroduzidas no organismo.
Segundo o estudo, uma única infusão dessas células modificadas foi suficiente para reverter os sintomas do diabetes tipo 1 em camundongos e, mais recentemente, curou pacientes humanos em fase inicial de testes clínicos.
Resultados promissores
Nos testes clínicos de fase 1, cinco pacientes diagnosticados com diabetes tipo 1 há menos de um ano receberam a infusão celular. Após seis meses, quatro deles apresentaram níveis normais de glicemia sem necessidade de insulina externa. Além disso, exames mostraram regeneração parcial das células beta e ausência de novos ataques autoimunes.
“É um resultado preliminar, mas extremamente encorajador. Ver pacientes abandonando a insulina após uma única dose é algo que nunca tínhamos testemunhado antes”, afirmou o Dr. Rawlings em coletiva de imprensa.
Próximos passos
Apesar do entusiasmo, os especialistas alertam que ainda há um longo caminho a percorrer. Os ensaios clínicos precisam ser ampliados para confirmar a segurança e eficácia do tratamento em uma população maior e mais diversa.
“Não podemos falar em cura definitiva até que haja dados de longo prazo, mas o conceito de tratar a causa da doença com uma dose única é revolucionário”, diz o imunologista Dr. André Silveira, do Instituto Butantan.
Perspectivas para o futuro
Se os resultados forem confirmados em fases mais avançadas, essa abordagem poderá transformar completamente o tratamento do diabetes tipo 1 – substituindo décadas de controle com insulina por uma única intervenção terapêutica.
“Estamos testemunhando o nascimento de uma nova era na medicina, em que reprogramamos o sistema imunológico para curar doenças em vez de apenas tratá-las”, conclui Dra. Moura.