Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
A atenção plena — ou mindfulness, no termo em inglês — pode efetivamente aliviar dores, sugere um novo estudo publicado no periódico Biological Psychiatry econduzido por cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos. O resultado mostrou que o efeito da prática é superior ao placebo nesses casos.
A percepção da dor depende de vários fatores, incluindo a experiência pessoal, o estado cognitivo e afetivo e até a expectativa. O efeito placebo, por sua vez, ocorre quando a simples crença em um determinado tratamento, mesmo que ineficaz, provoca uma certa melhora dos sintomas.
Para entender qual seria o real benefício da meditação no controle da dor, os autores dividiram 115 voluntários em quatro grupos: o primeiro fez sessões bem orientadas de mindfulness; o segundo praticou uma meditação “simulada”, em que os pacientes foram instruídos apenas a respirar profundamente a cada dois ou três minutos; e o terceiro recebeu um creme inócuo (placebo), acreditando se tratar de uma pomada anestésica. Os demais serviram de grupo controle e somente ouviram a leitura de um audiolivro.
No início do teste, todos receberam um estímulo doloroso na perna e avaliaram a sensação de dor. Em seguida, receberam o mesmo estímulo enquanto eram submetidos a um exame de ressonância magnética e cada grupo praticava as respectivas intervenções. Ao final, todos classificaram novamente a dor. Somente aqueles que meditaram com a técnica correta notaram uma redução significativa na intensidade.
Ao analisar os mecanismos cerebrais envolvidos nas respostas à dor, a equipe notou que a meditação mindfulness ativa vias diferentes daquelas acionadas no efeito placebo, além de reduzir padrões cerebrais associados com dor e emoções negativas.
Na atenção plena, o praticante foca no momento presente, dando atenção a sensações, sentimentos e pensamentos que, de outro modo, passariam batidos. O método ajuda a evitar distrações, pensamentos intrusivos ou processos reflexivos que possam gerar ansiedade, estresse ou qualquer outro tipo de desconforto.
O trabalho mostra ainda que tanto os que fizeram a meditação “simulada” quanto os que usaram o creme apresentaram padrões cerebrais associados ao efeito placebo. “O estudo traz uma nova informação, pois acreditava-se que os efeitos da meditação poderiam ser comparáveis ao placebo no controle da dor”, observa a neurocientista Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein.
Na pesquisa, a técnica foi associada tanto à modulação da intensidade quanto do desconforto da sensação dolorosa. “O trabalho fornece novas evidências, com diferentes técnicas de ressonância magnética cerebral, de que a meditação mindfulness pode reduzir significativamente as assinaturas de dor, tanto no aspecto nociceptivo [referente à percepção do estímulo de dor a partir de seus receptores] como afetivo.”
A meditação tem sido indicada como coadjuvante em quadros de dores crônicas, mas segundo os autores, o estudo reforça que essa prática pode ser uma alternativa barata e acessível para auxiliar no tratamento desses casos.
Fonte: Agência Einstein