Credenciada pelo Ministério da Saúde para procedimentos do gênero pelo SUS (Sistema Único de Saúde), a Santa Casa de Marília realizou o primeiro transplante de fígado da história na região atendida pelo DRS IX (Departamento Regional de Saúde), que abrange 62 municípios do Centro-Oeste Paulista.
O provedor da Santa Casa de Marília, Norival Carneiro Rodrigues, ressaltou este momento histórico para a medicina e para a saúde pública em âmbito regional. “Os pacientes que precisavam se deslocar a grandes distâncias agora têm um centro de transplante de fígado na nossa cidade. Parabéns a toda equipe que lutou bastante para a conquista do credenciamento junto ao Ministério da Saúde. Este é o primeiro de muitos transplantes que a Santa Casa vai realizar com sua equipe de competentes profissionais. Vale lembrar que passamos a fazer os transplantes hepáticos pelo SUS. Aliás, também pelo Sistema Único de Saúde realizamos mais de 70% do total dos nossos procedimentos já faz alguns anos”.
Sob o comando do cirurgião do aparelho digestivo e membro da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) Francisco Antônio Sergi Filho, o transplante hepático aconteceu no último dia 23 de fevereiro. “O paciente que recebeu o fígado chegou para nós no ambulatório com duas doenças muito graves, uma colangite biliar primária, em que o próprio corpo ataca os ductos biliares do fígado, causando uma inflamação crônica, com a coloração da pele ficando permanentemente amarela e junto com esta doença tinha uma retocolite ulcerativa, que tem forte associação com a colangite biliar primária, atingindo o intestino grosso”, explicou ele.
A equipe que realizou o transplante contou com a participação dos cirurgiões auxiliares Juan Branez e Fernanda Danziere, dos médicos anestesiologistas Fausi Machado, Victor Cappia e Guilherme Costa, da enfermeira de transplante hepático Débora Lorenzetti, da instrumentadora Evelyn Tanabe de Souza Araújo, do enfermeiro do Centro Cirúrgico Carlos Henrique Cirino da Silva e do circulante de sala Wesley Teco.
A lista do transplante de fígado é regulada por gravidade de estado de saúde e este paciente era o primeiro do Estado de São Paulo à espera do órgão. “O fígado veio de um doador de São Paulo. O procedimento foi um sucesso, com o paciente recebendo alta no sexto dia após o transplante. Gostaria de agradecer os profissionais da anestesiologia e todos que apoiaram o programa desde o começo, além de toda equipe que participou de alguma forma do procedimento e a direção do hospital”, salientou o médico.
O transplantado
Morador do município de Osvaldo Cruz (a 120 km de Marília), Sidnei Fernandes, de 40 anos, é o primeiro paciente a receber um transplante de fígado na história, na região de Marília.
Por conta dos problemas de saúde, há três anos ele teve que deixar o emprego em um frigorífico, em Herculândia (a 59 km de Osvaldo Cruz). Desde então, ele vinha se ocupando dos afazeres na chácara de propriedade dele e recebendo o acompanhamento, inicialmente no Hospital das Clínicas de Botucatu (a 201 km de Marília) e posteriormente no Ambulatório de Doenças Hepáticas da Santa Casa de Marília.
Evangélico, Sidnei demonstra muita fé em Deus e disse que sempre acreditou que conseguiria o transplante de fígado. “Nunca deixei os obstáculos atingirem minha vida. Sou um cara ativo e sempre acreditei que poderia vencer”.
Ele lembra que desde quando identificou o problema, em uma biópsia e depois através de exame de ressonância magnética, realizados em 2020, percebeu que a doença foi ficando mais agressiva. “Nódulos foram se formando e meu sangue foi afinando. Saía sangue pelo nariz direto e as veias estouravam com facilidade. Ficava mais cansado e perdi o apetite, perdendo 6 quilos”.
Sidnei se emociona ao lembrar do apoio que recebeu da família. “Minha esposa e meus filhos (de 11 e 17 anos) me deram muita força e cheguei a fazer tratamentos paliativos para enfrentar os sintomas. Agradeço o doutor Francisco Sergi e toda a equipe da Santa Casa de Marília, que me tratou muito bem e foi muito importante na minha recuperação”.
Além de Francisco Sergi, fazem parte da equipe de transplantes hepáticos, outros cirurgiões, gastroenterologistas e anestesiologistas.
A Santa Casa de Marília instalou o Ambulatório de Doenças Hepáticas há um ano e conta com aproximadamente 200 pacientes recebendo acompanhamento médico e de equipe multiprofissional, sendo que 40 pacientes já têm indicação para transplante de fígado. Os casos indicados para o procedimento entram na fila de espera coordenada pela Central de Regulação da Secretaria de Estado da Saúde.
