Mariana Nakajuni,
da Agência Einstein

No Brasil, cerca de 20% das pessoas com mais de 18 anos possuem obesidade, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. Frente à Covid-19, este cenário pode se agravar. O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (NUPENS) realizou um estudo envolvendo 14.259 indivíduos e revelou que, durante a pandemia, 19,7% deles tiveram um aumento de ao menos 2 kg em seu peso, enquanto 15,2% dos participantes viram uma redução nos números da balança.
“A pandemia do novo coronavírus complica a situação [da obesidade], pois leva a um confinamento da população, reduzindo a prática de atividade física e aumentando a ingestão alimentar”, explica Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “As incertezas do cenário atual também têm contribuído para o aparecimento de sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão, que podem piorar uma compulsão alimentar, por exemplo”.
Publicada na Revista de Saúde Pública, a pesquisa mostra também que o aumento de peso está associado a pessoas de escolaridade mais baixa. Uma das possíveis razões apontadas é o menor acesso dessa população a produtos frescos, além de uma maior exposição à publicidade de alimentos pouco saudáveis. Por outro lado, os autores sugerem que os indivíduos mais escolarizados tenham desenvolvido hábitos mais saudáveis, uma vez que têm à disposição um maior tempo para preparar suas refeições, ou possuem mais conhecimento sobre a importância da boa alimentação para a imunidade.
O estudo também indicou que, entre pessoas que já apresentavam sobrepeso antes da pandemia, há pouca diferença entre a proporção de pessoas que ganharam e perderam peso nesse período — 22,7% e 21,4%, respectivamente. “É possível que uma parcela dos participantes com essa condição tenha tido uma maior preocupação com a saúde e procurado desenvolver comportamentos mais saudáveis, com consequente perda de peso”, afirmam os pesquisadores. Já o grupo que relatou aumento de peso pode ter sofrido maior impacto emocional dentro do contexto de isolamento.
A obesidade é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal a níveis que prejudicam a saúde do indivíduo. Em muitos casos, ela está associada a comorbidades como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Pacientes com obesidade apresentam maiores agravamentos ao contrair a Covid-19. Isso ocorre porque esses indivíduos possuem uma alteração na imunidade, com maior predisposição para infecções. Além disso, o tecido adiposo, que armazena gordura no corpo, pode atuar também como um reservatório para o vírus, uma vez que há uma maior expressão da enzima ECA2, que se liga com a proteína spike do Sars-Cov-2 e facilita a entrada do vírus na célula.
Outro fator de risco, que acaba complicando o tratamento, é a menor expansibilidade do pulmão, o que dificulta o processo de ventilação mecânica e prolonga o tempo de recuperação. Em casos mais graves, há também o maior risco de formação de trombose, já que pessoas com obesidade possuem uma coagulação mais ativada.
A obesidade é multifatorial, e suas causas podem estar relacionadas a aspectos genéticos, ambientais e emocionais, que muitas vezes atuam de forma simultânea. O médico do Albert Einstein ressalta que “é importante procurar um endocrinologista para investigar as causas do ganho de peso, uma vez que elas variam de pessoa para pessoa”.
De acordo com ele, a obesidade deve ser encarada como uma doença crônica, assim como são a hipertensão e o diabetes. “Ela não ocorre simplesmente porque a pessoa não tem força de vontade, e necessita de tratamento e acompanhamento a longo prazo, que envolvem o estímulo à atividade física associado a mudanças do padrão alimentar. Se necessário, pode haver a incorporação de medicamentos e psicoterapia”, afirma.

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Um em cada cinco brasileiros ganhou peso durante a pandemia