O universo de startups que está nascendo na Amazônia com foco em atividades sustentáveis pode ser exemplo para fomentar a bioeconomia que governos, grupos empresariais, investidores e ambientalistas buscam para desenvolver a região e gerar renda para a população sem derrubar ou queimar a floresta. Baseados em produtos e projetos locais, que vão de açaí a cosméticos, pequenos negócios inovadores começam a transformar o cenário regional.

A economia verde, ou de baixo carbono, deve ajudar a Região Amazônica – que representa cerca de 60% do território brasileiro – a dar um salto em sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), hoje de apenas 8%, segundo avaliação de especialistas no tema.

O caminho trilhado por um número crescente de startups amazônicas para essa nova economia envolve comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares. A lógica está em aplicar ciência e tecnologia a dezenas de ativos da região, desde o início da cadeia de produção, para aumentar o valor dos produtos e beneficiar as populações locais.

Fabricante de cosméticos com óleos extraídos de plantas da região, a startup Biozer se prepara para exportar seus produtos aos EUA, Emirados Árabes e Europa. Já o Café Agroflorestal de Apuí usa grãos de plantações em áreas sombreadas pela floresta e será enviado para a Alemanha. Os chocolates da De Mendes são feitos com cacau nativo colhido por ribeirinhos e índios e chegam a consumidores de vários Estados e também do exterior.

“Não tem como manter a floresta de pé sem gerar renda para a população local”, afirma Mariano Cenamo, engenheiro florestal e diretor de Novos Negócios do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), que promove programas de aceleração de negócios de impacto.

‘Queremos ter itens premium’

Cosméticos 100% naturais produzidos em Manaus (AM) começam a ser exportados para EUA, Dubai e Europa ainda este ano. Os embarques só não ocorreram ainda porque a pandemia atrapalhou os planos da startup Biozer, que usa óleos extraídos de árvores e plantas da Amazônia na produção de óleos fitoterápicos, cremes e, em breve, gel, espuma para limpeza facial e suplemento alimentar de frutas da região – todos com a marca Simbioze Amazônica, criada pela empresa.

Após passar por um processo de aceleração, a startup foi criada há três anos por Danniel Pinheiro, de 26 anos, formado em biotecnologia, em parceria com o administrador gaúcho Domingos Amaral, de 53 anos, que buscava um projeto para investir. “Queremos levar produtos premium para o Brasil e o mundo com o mesmo óleo que o caboclo e o índio usam há centenas de anos, sem nenhum aditivo”, diz Amaral. São produtos com andiroba, breu branco, castanha, copaíba, patauá, pracaxi, priprioca, argila branca, cupuaçu, açaí, guaraná e tucumã.

Os extrativistas que fornecem os produtos passam por capacitação para garantir o padrão do óleo para a produção. “O preço é o mesmo que pagaríamos se o óleo viesse de São Paulo, ou seja, agregamos valor na extração, pois não há atravessadores”, diz Amaral.

Hoje, a Biozer funciona no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial. Pinheiro informa ter planos para uma fábrica maior, que deve multiplicar por dez a capacidade atual, de 4 mil unidades diárias. O projeto está orçado em R$ 8 milhões e já há fundos interessados no negócio.

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Baseadas em ativos da floresta, startups da Amazônia impulsionam a bioeconomia